Idrissa Ouedraogo de Burkina Faso, uma figura pilar do cinema Africano, faleceu aos 64 anos°no Domingo, de acordo com o pronunciamento oficial do sindicato nacional de cineastas.
Um diretor prolífero por todo o curso de sua célebre carreira, Ouedraogo foi mais conhecido por “Tilai” um drama poderoso sobre honra familiar que ganhou o Prêmio de Jurados de Cannes em 1990.
O presidente Roch Marc Christian Kabore disse num pronunciamento que seu país “perdeu um cineasta de imenso talento”, frisando que o diretor “realmente contribuiu em levar a luz de Burkinabe e do cinema Africano para além das nossas fronteiras”.
Tributos e condolências de todo o mundo cinematográfico africano verteram nas redes sociais. O superintendente congolês Balufu Bakupa-Kanyinda descreveu sua “tristeza profunda” pelo falecimento de um homem carinhosamente chamado de “o professor”, agregando que “o mestre voltou à casa, atrás da tela.”
Gilles Jacob, presidente do festival de cinema de Cannes, onde ”Yabba” e “Tilai” de Ouedraogo foram selecionados lamentou a morte de uma lenda das telas que “fechou seus olhos definitivamente exatamente quando o sol que iluminou seu corpo estava se pondo.”
Em Berlim, onde os cineastas foram reunidos°no Domingo°no Berlinale Africa Hub, muitos compartilharam seus pensamentos sobre a vida de Ouedraogo e sua célebre carreira.
Amigo de longa data e veterano programador de festivais Keith Shiri chamou Ouedraogo de “um grande e generoso homem” que o recebeu em sua primeira visita a Burkina Faso em 1989 pra o festival de cinema pan-Africano, Fespaco, onde Ouedraogo se tornaria uma referência nos anos seguintes.
Quando Shiri devolveu o favor, Ouedraogo não apenas o visitou no seu nativo Zimbabwe: ele ficou para apresentar um longa-metragem. “Ele se tornou um querido amigo”, disse Shiri, que agregou que “dado o conjunto da obra (de Ouedraogo)”, ele permaneceu comprometido com “cinema para Burkinabe antes de tudo”.
Nascido em 21 Janeiro de 1954, no que era então a colônia francesa de Upper Volta, Ouedraogo estudou em Kiev antes de se mudar a Paris, onde estudou no prestigioso Institut d’Hautes Etudes Cinematographiques e se graduou com diploma em estudos de cinema pela Sorbonne em 1985.
Ao retornar a Burkina Faso, ele mostrou seu primeiro longa, “Yam Daabo” (1986), que foi logo seguido por “Yabba”, uma história de amor entre um jovem e uma mulher mais velha rejeitada pelos aldeões que acreditavam que ela era uma bruxa. O filme, que ganhou o Prêmio FIPRESCI em Cannes em 1989, catapultou Ouedraogo à aclamação internacional, uma reputação que foi reforçada pela obra-prima “Tilai”.
Junto à seu trabalho nas telas, Ouedraogo também foi veterano no teatro, dirigindo “A Tragédia do Rei Christopher” na Comédia Francesa de Paris. Mesmo tendo dirigido um curta-metragem no ônibus 9/11 “11’9”01”, Ouedraogo se voltou muito ao trabalho em TV em anos recentes, e muitos pensaram que tinha ficado desiludido com os desafios de financiar filmes que insistia em filmar em celuloide. “Ele era um dos puristas do cinema”, disse Shiri.
Recentemente, Ouedraogo estava planejando em voltar a fazer longas, de acordo com Shiri, que sentiu que o diretor ganhou energias pela sua última experiência ensinando no Laboratório de Cinema de Ouaga, uma academia de treinamento em Ouagadougou. Ouedraogo também fez parte do comitê de planejamento para celebrar o 50º aniversário da Fespaco no próximo ano. “Ele esteve prestes a voltar novamente”, disse Shiri. “E de repente, ele se foi”.
Janaína Oliveira, do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígena (NEABI), esteve preparando uma retrospectiva do trabalho de Ouedraogo no mês de Maio. “Nós nos falamos há duas semanas”, escreveu num post no Facebook. “Eu estava trazendo ele para o Brasil. Passagens, filme, tributo… Estava tudo certo. Ele estava tão feliz”.
Photo by: Cines del Sur Granada Film Festival from Spain – Idrissa Ouedraogo, CC BY-SA 2.0, Link
Source: variety.com
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